quarta-feira, 19 de março de 2014

A CRENÇA RELIGIOSA COMO PANO DE FUNDO DA QUÍMICA

   Por muitos anos os Caldeus, Babilônios, Sumerianos e principalmente os antigos egípcios dominaram as manipulações químicas quanto a produção dos seus utensílios, armas e objetos artísticos, limitando o seu conhecimento sobre os metais, as cerâmicas, os vidros, os corantes apenas ao nível técnico. A fusão desses conhecimentos práticos com o pensamento místico dos orientais e a especulação filosófica dos gregos, particularmente de Aristóteles, deu origem a uma atividade nova, com características muito peculiares, que veio a ser conhecida como ALQUIMIA.
    A antiga tradição egípcia atribuía a origem de todos os conhecimentos ao deus Thoth, inclusive os conhecimentos práticos que deram origem a Alquimia. Os autores de Alexandria atribuíram as origem da CHIMIA ou CHEMEIA a um lendário personagem, chamado HERMES TRIMEGISTO, reverenciado como a fonte de toda a sabedoria. O nome Hermes deu origem a hermético e hermeticamente fechado, pois na época eram correntes referências a assuntos nebulosos, cheios de mistérios, fechados e secretos, dos quais Hermes mantinha o segredo.
   A Alquimia era um conjunto de práticas e conhecimentos empíricos profundamente impregnados de alegorias, segredos, superstições e magia.
   Os alquimistas tinham dois objetivos principais, pelo menos a maioria deles: a transmutação de metais comuns (estanho, chumbo, cobre, mercúrio) em ouro, que conseguiriam encontrando um misterioso ingrediente chamado PEDRA FILOSOFAL e a descoberta de uma substância capaz de curara todas as enfermidades e de conferir a vida eterna ao homem, ou seja, o elixir da vida eterna.
   Para muitos alquimistas, esses dois objetivos constituíam etapas sucessivas de um processo de aperfeiçoamento espiritual que culminaria com a imortalidade. 
   A religião está presente em todas as etapas das sociedades. Em cada cultura, em cada povo, a religião se faz presente. Negligencia-la fará com que a nossa percepção de mundo não compreenda o pensamento do homem antigo nas suas atividades, principalmente, da alquimia que, tornar-se-ia a precursora da química.
   É com o conhecimento religioso que compreendemos a alquimia, pois, os alquimistas, conforme criam, recebiam as revelações do deus Hermes para poder fazer as suas misturas. A alquimia não era investigativa, como o é a nossa Química hoje, mas, sim, procedente da liturgia. A Tábua de Esmeralda ou  Tábua Esmeraldina, por exemplo, é um texto que deu origem a alquimia islâmica e ocidental.Veja a tradução da Tábua abaixo:
 (1) É verdade, certo e muito verdadeiro
(2) O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa.
(3) E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação.
(4) O Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua alma;
(5) O Pai de toda Telesma do mundo está nisto.
(6) Seu poder é pleno, se é convertido em Terra.
(7) Separarás a Terra do Fogo, o sutil do denso, suavemente e com grande perícia.
(8) Sobe da terra para o Céu e desce novamente à Terra e recolhe a força das coisas superiores e inferiores.
(9) Desse modo obterás a glória do mundo.
(10) E se afastarão de ti todas as trevas.
(11) Nisso consiste o poder poderoso de todo poder:Vencerás todas as coisas sutis e penetrarás em tudo o que é sólido.
(12) Assim o mundo foi criado.
(13) Esta é a fonte das admiráveis adaptações aqui indicadas.
(14) Por esta razão fui chamado de Hermes Trismegistos, pois possuo as três partes da filosofia universal.
(15) O que eu disse da Obra Solar é completo.
    Um escrivão copista, Nicolas Flamel, nascido em Paris em 22 de março de 1418, ganhou fama de alquimista após seus supostos trabalhos de criação da pedra filosofal, o elixir da longa vida e a transmutação. Ele fez uma oração pedindo a sabedoria e inteligência do alto para que o acompanha-se em todas as suas obras. Segue abaixo a sua oração:
Deus todo-poderoso, eterno, pai da luz,
de quem provêm todos os bens e todos bens perfeitos,
imploro vossa misericórdia infinita;
deixa-me conhecer vossa sabedoria eterna;
aquela que circunda vosso trono, que criou e fez, que conduz e conserva tudo.
Dignai-vos enviá-la do céu a mim, de vosso santuário,
e do trono de vossa glória, a fim de que ela esteja em mim e opere em mim;
é ela que é a senhora de todas as artes celestes e ocultas,
que possui a ciência e a inteligência de todas as coisas.
Faz com que ela me acompanhe em todas as minhas obras
que, por seu espírito, eu tenha a verdadeira inteligência,
que eu proceda infalivelmente na nobre arte à qual estou consagrado,
na busca de miraculosa pedra dos sábios que ocultaste ao mundo,
mas que tendes o hábito de descobrir ao menos aos vossos eleitos.
Que essa grande obra que tenho a fazer cá embaixo seja começada,
continuada e concluída ditosamente por mim;
que, contente, goze-a para sempre.
Imploro-vos, por Jesus Cristo, a pedra celeste, angular, miraculosa
e estabelecida por toda a eternidade,
que comanda e reina convosco.
     Assim, com um olhar atento para as novas descobertas e abertos para aprendermos cada vez mais, não esqueçamos da fé, da crença que nos move para frente. As culturas são o que são porque tiveram um pano de fundo religioso e cada um deles trouxeram grandes contribuições que nos fizeram amadurecer e crescer, conhecendo as motivações que os levavam a descobrir novas ciências.

Referência Bibliográfica
A revelação de Hermes Trimegisto (Texto de Mircea Eliade em "História das crenças e das ideias religiosas, vol. II” (Ed. Zahar))
http://textosparareflexao.blogspot.com/2013/03/a-revelacao-de-hermes-trimegisto.html
Sobre a Tábua de Esmeralda
http://ponteoculta.blogspot.com.br/2010/07/tabua-esmeralda.html

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